Sandro não era um cara bonito e ele sabia disso quando viu Marcela pela primeira vez. De longe ela parecia um pouco triste, usava um vestido cinza de alças azuis.
O azul combinava com seus olhos e o cinza... bom, o cinza era só cinza. Estava sentada naquele banco há muitas horas e parecia que não pretendia sair dali.
Marcela olhava para os pés.
Quando caminhou até ela, Sandro andou devagar, com medo, e já próximo, também olhou pra'queles pequenos pés.
Ela tinha os sapatos um pouco gastos e por isso ele apertou forte os dois reais e quarentas centavos guardados no bolso da calça jeans. Lembrou que o último ônibus passava as onze horas, não podia demorar.
Quando Sandro sentou ao seu lado, viu que uma fina lágrima se jogou do rosto dela, mergulhando numa constelação de sardas que brilhavam entre as finas alças.
Marcela era linda e vendo aquilo ele não sabia o que fazer.
Chegou mais perto, bem próximo, ele começou a gaguejar uma música que tinha escutado mais cedo, num programa de tevê:
são como os anjos
que tocam banjos
como Marte
sempre pra lá
como água é doce
sem açúcar
azul da Urca
vista do mar
asa de pássaro
tempo que passará
bala que mata
e não para o tempo de passar
planta que cresce
sombra esfria
fruto que cai
quinta na sombra descansar
idéia que surge
lâmpada acende
caneta escreve
papel a recordar
vento que cheira
Dama-da-noite
é lua cheia
olho a inchar
nascer do sol
vida que nasce
coração que pulsa
é a vida a continuar
É a vida a continuar...
Com a cabeça ainda baixa, ela disse seu nome: Marcela.
Ele sugeriu que poderiam sair dali, pra beber um refrigerante.
Essa música tá aqui e a letra foi o que eu entendi ;D
Nenhum comentário:
Postar um comentário