num belo dia o ponteiro dos minutos se apaixonou louco e perdidamente por seu colega de trabalho, pelo ponteirinho - devo dizer ponteirinha? - das horas. de hora em hora ele passava por ela e lhe dava um sorriso, uma piscadinha, um psiu. por uma hora inteira ele a esperava. tentava passar mais próximo na próxima vez. e nada. não recebia uma resposta para seus galanteios. sempre que se aproximava, ele tentava diminuir o ritmo dos seus passos em direção a ela. sempre sem sucesso. o máximo que ele conseguia era um suspiro, as vezes, um passo a frente do ponteirinho das horas.
até que numa manhã, foi exatamente as nove e quarenta e oito, recebeu um grito, um berro da amada ponteirinha. depois disso tentou de tudo. atrasar, adiantar, e num ato de loucura, tentou até o suicídio parando bem próximo. na verdade ele queria apenas saber os motivos de tanta repulsa. nada resolveu. naquele dia deram mais corda.
era terça-feira quando ele descobriu. foi por acaso. eram seis horas, trinta minutos e quase vinte oito segundos, o ponteiro dos minutos notou um esboço de sorriso no rostinho pequeninho do ponteirinho das horas. olhou para trás. o viu passar ligeiro por eles. percebeu o sobressalto e um sorriso tímido e largo do fininho e esbelto ponteiro dos segundos. ooooooooi, senhorita! - ele disse todo pomposo, sorrindo, ao passar pelos dois. o encontro dos três durou pouco menos de quatro segundos.
os trinta segundos restantes foram suficientes para ponteiro das horas e o ponteiro dos minutos discutirem a inexistente relação.
a resposta era obvia. ele viu as palavras saindo lentamente da boca do ponteiro das horas: ele me dá... mais atenção... que você. tic... tac.
é claro - pensou - o ponteiro dos segundos! quem poderia dar mais atenção que ele? apesar de passar depressa, ele sempre arrumava um jeito de dar um oi, um sorriso, de passar juntinho dela. o ponteiro dos segundos estava sempre ali. a cada minuto. no meio dos meus minutos.
mas não sofreu. depois dessa rápida conversa, o ponteiro dos minutos desistiu de se engraçar. trabalhou mecanicamente. passava reto, correto e pontual. como numa máquina. como num relógio. e foi pra sempre.
2 comentários:
Conhecia não...
nem eu.
=D
mas já voltei com as cápsulas azuis...
Impressionante sua capacidade de injetar sentimento em tudo (q escreve), nada abstratos ou figurativos...
Este ficaria bem legal num Curta.
que linda história, ao mesmo tempo que é triste, pobre ponteirinho...
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